Pedro Corrales
Em pleno Dia Internacional de Mulher de 2014, mulheres ao redor de todo mundo continuam sofrendo diferentes tipos de opressão, machismo e até restrições de direitos humanos básicos. Cinco mulheres foram entrevistadas para discutir os principais problemas de suas sociedades em relação à qualquer tipo de privação ou preconceito sofrido por suas conterrâneas. Arábia Saudita, Egito, Espanha, República Tcheca e Uganda foram os países escolhidos que protagonizam diferentes situações nas quais as mulheres são as principais afetadas e lesadas.
ÁRABIA SAUDITA
Aeshah Ali Awadh, 25 anos, da Arábia Saudita. Formada em Biologia realiza trabalhos sociais no Hospital Geral de Jazan, sua cidade natal.
A Arábia Saudita, localizada no Oriente Médio, é uma monarquia absolutista teocrática regida pela doutrina islâmica. Leis ultraconservadoras baseadas no regime do Wahabismo exaltam a segregação de gêneros em espaços públicos por toda a nação. Na cidade de Jazan, localizada no sul do país, nasceu e vive até hoje Aeshah Ali Awadh, de 25 anos. Formada em Biologia pela Universidade local, realiza trabalhos sociais no Hospital Geral da região. Durante a entrevista, Aeshah alterou declarações conservadoras vinda de uma criação sob o olhar das tradições religiosas do Islã e argumentos de uma nova geração de mulheres árabes que surge no Oriente Médio em busca de mais direitos e igualdade.
Direitos das mulheres
A sociedade saudita está repleta de privações de direitos básicos para as mulheres. É uma das situações mais críticas no mundo de hoje. As inúmeras restrições para as muçulmanas vão desde a obrigação por lei do uso do véu ao sair de casa até não poder viajar, trabalhar, estudar e até se casar ao menos que tenha a permissão dos homens de sua família. As mulheres sauditas são reféns das vontades de seus familiares homens e são incentivadas a se concentrar em casar e ter filhos. Ainda hoje, a Arábia Saudita permanece como o único país do mundo em que não é permitido que mulheres dirijam. Nas poucas universidades destinadas para as mulheres, a variedade de cursos é extremamente limitada às áreas historicamente tradicionais como enfermagem e pedagogia.
“Vestindo o Hijab(código de vestimenta para mulheres muçulmanas) eu me sinto como uma rainha que não exibe a sua beleza para o público a não ser que seja para homens de sua família ou seu marido”.
O olhar de Aeshah romantiza a utilização do manto islã embasado em suas crenças religiosas e na sua criação. Na perspectiva estrangeira, o véu é visto como uma ferramenta para isolar e silenciar as muçulmanas da vida pública.
Esperança
“Agora o governo saudita esta realmente preocupado com o direito das mulheres. Eu acho que passo a passo nós iremos conseguir cada vez mais direitos iguais aos homes. Eu me sinto muito sortuda por ser saudita e ser muçulmana”.
Apesar da vida com restrições e desigualdade, Aeshah Ali Awadh é otimista e vê um futuro mais igual entre homens e mulheres. O rei Abdullah, líder do Reino da Arábia Saudita, já realizou ações que reduziram a segregação de gêneros no país. A mais importante delas foi o anúncio de que a partir de 2015 as sauditas poderão se candidatar e votar nas eleições locais para o conselho que supervisiona o legislativo das regiões. A decisão deve ser considerada como um grande passo já que aumentará substancialmente a participação política feminina que poderá contar com alguém para defender os interesses das mulheres no país.
UGANDA
May Ndahura, 25 anos nascida em Nakuru no Quênia. Trabalha com marketing digital em Kampala, Uganda.
Outro cenário crítico que parece se acertar com o tempo esta presente nos dois países de May Ndahura. Com 25 anos, nasceu no Quênia mas vive em Uganda desde que é criança e se considera ugandesa. Formada em Engenharia Civil na capital Kampala, trabalha hoje com marketing digital.
“O grande problema de direito das mulheres aqui é a tradição extremista da mutilação genital feminina que ainda acontece em algumas áreas do país. Algumas organizações internacionais vieram para ajudar e já mudaram bastante o panorama local”.
Explicado por crenças religiosas, a mutilação genital feminina ocorre em 29 países do Oriente Médio e na África. Segundo uma estimativa da ONU, mais de 125 milhões meninas e mulheres já sofreram da prática nesses países. Uganda e Quênia, os dois países de May, decidiram recentemente em adotar leis para exterminar a prática de uma vez por todas.
ESPANHA
Clara de Partearroyo, 43 anos. Professora de espanhol para estrangeiros no Colégio Delibes em Salamanca, Espanha.
Aos 43 anos, a espanhola Clara de Partearroyo é professora de espanhol para estrangeiros na cidade de Salamanca, onde nasceu e mora até hoje. Solteira e sem filhos admite sentir uma certa pressão da sociedade para casar porém não se incomoda com isso. O que realmente incomoda as mulheres espanholas no momento é a questão do aborto que vai no caminho contrário dos exemplos nos países de Aeshah e May.
Aborto
“A lei me parece muito restritiva e espero que ampliem. Antes era muito livre e agora é muito restrito, acho que precisam achar um meio termo. O problema na verdade é a educação sexual”.
Na Espanha, até o ano passado, o aborto era legalizado e realizado de forma segura para que não se pusesse em risco a vida de qualquer mulher que demonstrasse vontade de revogar sua gravidez. Em 2013, então, foi aprovado o anteprojeto de lei que cria restrições para que o aborto seja permitido e ocorra legalmente em apenas dois casos: ou por conta de um possível risco à vida da grávida ou em casos de estupro com a denúncia previamente efetuada. Menores de idade também precisam apresentar o consentimento dos pais.
“Muitos falam que abortar é um direito. Para mim não é um direito. Direito é uma coisa que seja boa para todos como a igualdade, a vida e a justiça. O aborto é um privilégio/benefício do estado de bem-estar social”.
Tanto na Espanha quanto no Brasil a discussão da legalidade do aborto esbarra em questões religiosas e do conceito da vida do bebê. Do outro lado estão a autonomia, a liberdade de escolha da própria grávida com o seu corpo e os procedimentos perigosos em que mulheres e meninas são submetidas quando procuram a maneira ilegal do ato.
EGITO
Nadine Hamdy, 20 anos. Estudante de Farmácia na Universidade Alemã de Cairo, Egito.
Nascida no Canadá e de família egípcia, Nadine Hamdy de 20 anos vive em Cairo, capital do país, onde estuda farmácia. Segundo estudo realizado pela Fundação Thompson-Reuters, o Egito é o pior país em todo mundo árabe para ser mulher. Um recente relatório da ONU diz que 99,3% das mulheres do país estão expostas à assédio sexual. Além disso, números de tráfico de mulheres e leis discriminatórias o colocaram no topo dessa lista.
“No Canadá eu nunca tinha sentido preconceito mas quando me mudei para o Egito notei claramente a diferença. Aqui é muito comum que as mulheres se sintam em desigualdade em todas as esferas da sociedade. Até no mercado de trabalho, muitas empresas aceitam profissionais femininas para as vagas mas nunca deixam que elas subam de posição na companhia”.
REPÚBLICA TCHECA
Lucy Machová, 21 anos, é da República Tcheca e estuda turismo na capital Praga.
Independência
“Eu jamais quero depender de algum homem financeiramente. Mesmo que seja meu parceiro, quero poder fazer o que quiser por mim mesmo. Sonho em construir uma família e ter filhos mas preciso pensar nos meus estudos e na minha carreira profissional antes”.
Lucy Machová, 21, nasceu em Pilsen na República Tcheca e hoje vive na capital Praga onde estuda Turismo na Universidade de Economia. Desde criança possui o desejo de ser completamente independente e bem-sucedida profissionalmente. Lucy é ambiciosa porém não otimista em relação ao futuro da igualdade de gêneros no trabalho. Por enquanto Lucy parece ter toda a razão.
Segundo dados do Eurostat, a média de diferença salarial entre gêneros na União Europeia é de 16,4% a mais para os homens. No Brasil, pelos números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgados no fim do ano passado, a diferença é ainda maior, com média de 27,1%.
Futuro
Nenhuma das cinco entrevistadas se assumiu como uma feminista, porém, dentro de cada circunstância regional, todas se impõe ativamente de alguma maneira na sociedade e não aceitam as condições desvantajosas postas nas suas vidas. A desigualdade de gêneros vem diminuindo a cada nova geração da humanidade, porém, ainda esta presente em cada canto do nosso planeta. Há muito o que se fazer em relação ao papel feminino na comunidade internacional e todos devem se conscientizar das mudanças necessárias.
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